Todos os dias pegavam o mesmo ônibus. Ela sempre com pressa e ele sempre com aspecto entediado, como
quem odeia aquele ponto cheio de gente. Ela levava uma pasta verde e uma
bolsa gigante nas mãos,ele carregava apenas um caderno mal tratado e
uma caneta bic azul. Geralmente usava all star preto e bermudas surradas acompanhado de um cabelo quase sempre despenteado.Tinha um ar de mistério. Ela sempre confortável com seu jeans,as vezes usava uns óculos com aros vermelhos que lhe davam um ar de moderninha. Eles sempre se olhavam.Certo dia no ônibus um colega do garoto gritou "E AÍ,CAIO!?" .Caio.Ele realmente tinha jeito de Caio.Um jeito meio surfista com baterista de banda indie.Caio não tirava os olhos da menina e um dia conseguiu ler na sua pasta o nome Sofia. Sofia. "Nomezinho de princesa", pensou. Devia ser uma daquelas garotinhas intocáveis que gostam de ouvir Paulinho Moska. Sofia sentia que Caio era um folgado. "Ele bem que podia levantar pra aquela senhora sentar.Mal educado!". Caio achava que Sofia mal sabia andar de ônibus. "Princesinha desajeitada.Não consegue nem disfarçar a cara de medo quando o vendedor de chicletes pergunta se ela ta a fim"
Não conseguiam parar de se olhar. Desciam no mesmo ponto e andavam
juntos uns quinze minutos até chegarem na praça que divide suas
faculdades. "Porque esse menino não sai do caminho? Ou ele anda mais rápido ou vou ter que atropelar essa tartaruga de all star ". A princesinha
se irritava com o jeito aluado do Caio. No fundo o que a irritava mesmo
era o fato do garoto lento nunca puxar um papo com ela. Nem as horas ele
jamais perguntou. Numa das andadas à caminho da praça, um garoto mau
encarado esbarrou na princesa, puxou sua bolsa e saiu correndo. A garota
ficou sem ação e o único movimento que conseguiu fazer foi um olhar de menina perdida e a única reação
de Caio Tartaruga foi se aproximar de Sofia e lhe dar um beijo
molhado.Uma verdadeira cena de comédia romântica. Se olharam durante exatos
sete minutos.Estavam segurando um a mão do outro e Sofia percebia que
ele tinha a unha do polegar grande,coisa de quem toca violão.Caio sentia
como a mão dela tremia.Tremia muito.O ladrãozinho
encontrou a carteira da princesa e jogou sua bolsa no chão. Como a bolsa
não era nada discreta,Sofia quebrou o silêncio dos sete minutos
sussurrando "Minha bolsa...". Caio olhou para trás e soltou um "Eu pego pra você."
A bolsa foi entregue,as mãos foram soltas.Ambos seguiram para suas
aulas ainda sem entender o que tinha acontecido.Não se despediram, não
combinaram uma cerveja. Ao chegar em casa, Sofia ouviu que não deveria
mais ir à aula de ônibus. A cidade estava mesmo perigosa. Começou a pegar carona com uma prima cocota que, por sinal,odiava garotos despenteados. Sofia nunca mais encontrou seu menino lerdo. Caio
nunca entendeu por que sua princesa sumiu. Verdade que ele continuou um
sapo mas ela não precisava mudar a rotina por isso. Uns períodos
depois, Sofia avistou Caio de mãos dados com uma garota de cabelos
coloridos. De longe, o garoto reconheceu seus óculos de aros vermelhos e
lembrou da cara de criança com medo de roda gigante. Soltaram um sorriso
de canto de boca que dizia tudo. "Eu gosto de você, seu garoto viajado" , "Gosto de você, princesinha desaparecida".
Muito boa a narrativa apesar de ser um conto bem feminino, mas de os parabéns para o autor, encontrei seu blog nos comentários de um amigo e resolvi seguir, achei o titulo bem engraçado... se quiser retribuir :
ResponderExcluirhttp://felipeouverney.blogspot.com/
Valeu !
ResponderExcluirVou visitar seu blog sim, pode deixar ;D