sábado, 11 de dezembro de 2010

Por mais que eu o tranquilizasse, meu pai permaneceu paralisado de medo e seus olhos me dilaceravam. Mais de uma vez, fui golpeado pela constatação de que estava matando-o. Sentei ao lado dele na cama, consciente das poucas horas restantes antes de partir para o aeroporto.
“Vai ficar tudo bem”, disse. “Eles vão cuidar de você.”
As mãos dele continuavam a tremer. “Tudo bem”, ele disse com a voz praticamente inaudível.
Senti as lágrimas começando a se formar. “Quero dizer uma coisa para você, ok?”, respirei fundo, concentrando meus pensamentos. “Só quero que você saiba que acho você o melhor pai do mundo. Você teve de ser ótimo para aturar alguém como eu.”
Meu pai não respondeu. No silêncio, senti tudo o que sempre quis dizer a ele aflorar à superfície, palavras que se formaram durante toda uma vida.
“É verdade, pai. Desculpe por todas as coisas horríveis que fiz você passar, e desculpe por não ter estado presente o suficiente. Você é a melhor pessoa que já conheci. Você é o único que nunca teve raiva de mim, você nunca me julgou e, ao seu modo, me ensinou mais sobre a vida do que qualquer filho poderia querer. Sinto muito não poder estar presente agora, e me odeio por fazer isto com você. Mas estou com medo, pai. Eu não sei mais o que fazer.”
Minha voz soou rouca e irregular aos meus próprios ouvidos, e não queria outra coisa além de um abraço.
“Ok”, ele disse finalmente.
Sorri para sua resposta. Não pude evitar. “Eu te amo, papai.”
A isso, ele sabia exatamente o que responder, pois sempre fizera parte da rotina.
“Também amo você, John.”
(…)

Foi a última vez que o vi vivo. 




Do livro, Querido John

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Qual a sua intenção?